Existe, em italiano, um termo específico para designar a sensação de se encontrar despreparado, em uma situação desconhecida – à qual não se pertence – sem pontos de referência; “spaesamento”, diz-se. “Sem país” seria a tradução livre.
Alguns vegetais italianos podem causar semelhante estranheza a um brasileiro. A desorientação aumenta se nos ativermos a certos nomes: o termo “rapa” e derivações, por exemplo, designam uma família de tubérculos das quais fazem parte: rapanello (rabanete), rapa rossa (beterraba), rafano (raiz forte), dentre outros.

Mas aí as coisas se enrolam: no mercado, vê-se uma verdura parecida com brócolis, só que com mais folhas, de nome cime di rapa. Oi?
Se você não souber que “cime” é o plural de “cima” que, como em português, significa “a parte mais alta”, “extremidade superior” e que a raiz desse brócolis diferente é também redondinha e carnuda, fica sem entender nada.
Um passo para o lado, eis uma bolota grande e feiosa, cheia de imperfeições: pela aparência, você arriscaria: é o primo rechonchudo do rabanete!
Mas, você que não sabia o que era “cime”, lê no nome algo familiar: sedano rapa… peraí, mas “sedano” não queria dizer salsão?

Pois bem, e mesmo sem aparentar, aquela bolota é prima do aipo, ou melhor, é a raiz de uma planta semelhante a ele.
Descobre-se, portanto, que “rapa” é o nome genérico em italiano para raízes carnosas e arredondadas . Podem ser mais ou menos grossas; brancas, amarelas, rosas, verdes; doces, picantes…
E, na parte de cima, florescem brócolis, repolhos, couves; além de outras folhas e flores desconhecidas… é como se, para o mundo, externamente, todas fossem verduras autônomas, com identidade única e independência inequívoca.
Mas, no fundo, no fundo, nas entranhas da terra, tudo é rapa.